domingo, 11 de dezembro de 2016

SÚPLICA AOS ANTEPASSADOS

 
 
Rogo-vos, meus antepassados, a coragem para prosseguir.
Rogo-vos porque já caminhastes por estas terras e sujastes as mãos com barro e com sangue.
Vós que conhecestes a lágrima vertida por olhos, já opacos,  que testemunharam o funeral dos vossos próprios sonhos.
Rogo-vos porque conhecestes a força do perdão, a urgência de seus corpos e presenciastes o logro e a vileza.
Rogo-vos porque sentistes frio e ânsia, e suportastes as enfermidades do corpo e da alma.
Rogo-vos porque fostes como eu sou, um mosaico de virtudes e fraquezas, de atos heroicos e egoísmos mal disfarçados.
Coloco em vós minha esperança de suportar com altivez minha própria desesperança, pois sei que muitas lágrimas verteram dos vossos olhos antes da partida.
Vós que já fostes meninos e sofrestes na carne as dores da velhice que chegaram acompanhadas de mãos trêmulas e faces vincadas pelas marcas que a vida escreveu.
Se hoje habitam reinos de Luz, antes conhecestes as sombras, as encruzilhadas e os escarpados caminhos.
Conhecestes a suavidade do amor e a força das paixões.
Sentistes o cheiro  de corpos enfermos e sujos.
Convivestes com as incertezas e duvidaram de todas as verdades aceitas pelos homens sobre origens e destinos.
Porque observastes o voo dos pássaros e maldissestes a ausência das próprias asas e o peso dos próprios pés.
Se hoje ouvem o coro dos Anjos, antes ouviram o rufar dos tambores, dos tiros explodindo das armas.
Ouvistes os gritos dos desesperados, até que suas vozes sumiram no vazio e tudo o que restou foi o silêncio de suas tristezas.
Porque já caminhastes por estes caminhos e tivestes os pés feridos e joelhos sangrando pelas inúmeras vezes em que as pernas se dobraram pelo cansaço da jornada.
Acredito que por tudo isso podem compreender a saudade que consome um Ser quando a alma se recorda da sua origem e geme, e se contorce de desejo de retornar ao Lar, ainda que não lhe seja claro o caminho de regresso.
Quando nos sentimos enredados em teias de Leis que desconhecemos.
Quando nos esquecemos da felicidade de sermos amados e compreendidos na totalidade do Amor.
Só o silêncio pulsa e grita.
Minha alma quer voar.
Sustentai-me!
Já não me reconheço mais como humano e no entanto não encontro mais minha virgindade original.
Pairo entre os mundos...
Peço-vos que me estendam  vossas mãos para que eu possa elevar-me acima de tudo.
Amém!

Zel Suek

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

ROMEO E JULIETA ÀS AVESSAS

 
 

 
 
ROMEO E JULIETA ÀS AVESSAS
 
Quando pela primeira vez meus olhos pousaram nos seus,
não tive dúvidas, havia encontrado Romeo.
 
Nesse momento mágico, fiquei aprisionada, mergulhada
nas profundezas do azul dos olhos teus.
 
E conheci a força do amor e com ela a imensidão da dor.
 
Porque você disse adeus, Príncipe Romeo.
 
E eu? Bem, eu continuei sendo eu.
 
Eu quis ser sua Julieta, mas você... não quis ser meu Romeo.

Zel Suek

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ALMA ERRANTE







Minha alma encharcada de desilusões recolheu-se em si mesma num grande e sepulcral silêncio.
Amores se foram, ilusões esmagadas, esperanças mortas...

Este é o triste retrato desta minha maltrapilha alma que vaga errante num mundo que não compreende.

Basta de crenças, basta de véus, basta de súplicas.

A verdade é nua e esfrega sua nudez nos meus olhos cansados da fealdade da vida.

Para mim, foi cedo demais... e demorada demais.

Alma andarilha pelos escarpados caminhos da existência que raras vezes experimentou o êxtase da felicidade.

Hoje ela está encolhida, acuada, resignada com sua própria ruína.

Não há nela nem sonhos, nem lástimas, apenas a consciência de seu destino construído de derrotas e dias sombrios.

Não há mais Luz, nem certezas, nem um único sonhar. Apenas a entrega, a compreensão de sua pequenez diante de um mundo hostil, que premia os infelizes trapaceiros, os aduladores, os de conduta e moral baratas.

Onde está o meu verdadeiro Eu?
 
Isso é tudo o que a vida pode oferecer? Migalhas de alegria? Sonhos que se desfazem tal qual castelos de areia tragados pelo mar?
 
Quisera eu ter a resposta.
 
Mas o mundo está em silêncio.
 
Zel Suek

domingo, 25 de setembro de 2016

E...

 
 
 
E o velho colchão permaneceu inerte,
sem que acolhesse nossos corpos ardentes.
 
E o ar não se encheu com nossos gemidos de amor,
apenas testemunhou meu choro solitário.
 
E meu coração gemeu baixinho, já sem forças,
tão cansado de tantos enganos.
 
E o quarto triste ficou em silêncio, partilhando do meu desamparo,
sem nada compreender.
 
E a noite passou devagar, como uma sombra comprida
que se estendeu sobre meus olhos.
 
E sonhei um sonho vago, onde você partia sem nada dizer.
Foi adeus.
 
Zel Suek

quinta-feira, 23 de junho de 2016

DISCO VOADOR

 

Disco Voador
 
Teu mundo cinzento foi invadido por uma estranha Luz
Todas as cores brincavam numa frenética ciranda, de brilho e matizes
 
Mas, a claridade ofuscou-te os olhos...
 
E eu, que pensei que te iluminava
Percebi, tardiamente, que acostumados à sombra
Teus olhos cegaram-se, para sempre, para mim.
 
Zel Suek - 1996

terça-feira, 12 de abril de 2016

PLANETA AZUL




O sangue começou a pingar gotas tímidas e cintilantes,
os cortes foram se alargando, novas fendas se abrindo,
a carne rasgando...

E o sangue começou a jorrar, tingindo de vermelho a porta tão esmurrada.
A porta! A porta que nunca se abriu!

Mãos cansadas, vermelhas, ensanguentadas...
O sangue correndo, inundando a sala, enchendo o ar
com seu odor.

E tudo ficou submerso, nervosamente empapado...

As mãos se erguiam, como que pedindo socorro,
mas o socorro não veio, nem antes, nem nunca...

Então, o mundo inteiro mergulhou no líquido viscoso,
vermelho, grosso, liguento...

Um anjo que passava distraído pelo céu, avistou a Terra
e percebeu que ela deixara de ser azul.

20/06/1995

Zel Suek

segunda-feira, 11 de abril de 2016

DIFERENÇA ENTRE UMA CASA E UM LAR



Sua casa é só uma casa quando você chega exausto do trabalho, atira seus pertences em qualquer lugar, joga-se na primeira poltrona, cama ou sofá, e descansa.

Sua casa é só uma casa quando vai à cozinha, abre a geladeira, toma um gole de água e engole qualquer coisa para matar a fome.

Sua casa é só uma casa quando você atira suas roupas no chão, joga os sapatos em um canto qualquer e liga a TV para se distrair.

Sua casa é só uma casa quando o pó se acumula na mobília e o espelho rachado permanece na parede; quando o trinco da porta perdeu a função e a torneira goteja sem parar.

Sua casa é só uma casa quando o lixo se acumula e exala mau cheiro e a pia da cozinha vira depósito de louça suja.

Sua casa é só uma casa quando as paredes estão vazias de cor, de vida e de beleza.

Sua casa é só uma casa quando a cama permanece desfeita por dias e dias.

Sua casa é um Lar, quando você reconhece os aromas de flores frescas, do alimento sendo cozido e do pãozinho sendo assado.

Sua casa é um Lar quando você chega e sente-se grato por ter um abrigo, uma cama limpa para dormir e uma música para encher o ar de melodia.

Sua casa é um Lar quando seu coração fica morninho ao abrir a porta e deparar-se com os móveis limpos, quadros enfeitando suas paredes, objetos que alegram seus olhos.

Uma casa é um Lar quando você é recebido com o sorriso de um ser amado, de um abanar de rabo do seu cãozinho, de um entrelaçar de um gatinho em suas pernas, ou ainda que seja, do silêncio reconfortante...

Sua casa é um Lar quando suas roupas tem cheiro de limpeza e quando há algo que brilhe e te remeta à Grande Luz, seja uma vela acesa, um cristal, um espelho intacto.

Sua casa deixa de ser casa para se transformar em Lar quando você tem uma família para amar e reunir, um animalzinho para alimentar e acariciar, amigos para partilhar de sua mesa, do seu teto e de sua vida.

Portanto, seja sempre grato, ame o que você chama de casa, zele, cuide, enfeite, sacralize, armazene não apenas alimentos mas também, boas energias.

Porque descansar não é o mesmo que repousar, na casa você descansa, no Lar você repousa.
 
Porque uma cama bem arrumada deixa de ser cama e se transforma em leito.

Porque matar a fome não é o mesmo que fazer uma refeição.

Porque se distrair não é se alegrar. A TV distrai, um olhar contemplativo e grato ecoa alegria no coração.

Porque desmazelo pela sua casa não soma, não embeleza, não engrandece, não te aconchega.

Porque capricho é sinônimo de carinho, respeito e cuidado para com o espaço que você habita.

Porque quando você enfeita a sua casa, parte da sua própria beleza interior se manifesta e se materializa.

Por fim, o exterior é o reflexo do que carregamos,  é o mapa da nossa história , é a nossa Luz derramada sobre todas as coisas que nos são caras.

E você, mora numa casa ou num Lar?
Se a resposta silenciosa for "casa", ainda dá tempo...
Se for "Lar", que ele seja abençoado!!

Zel Suek




terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

DUAL





Como uma célula que se divide, me parto em duas e cada uma das partes adquire personalidade e vida própria.

São duas em uma, lutando em lados opostos, uma luta inabalável e silenciosa. Crescem, avolumam-se, desgastam-se.

Não consigo juntar meus pedaços. Uma gosma liguenta impede que os dois lados se colem. Um assiste, resignado, a vida passar pela janela, outro pulsa, quer escapar, ganhar espaço, experimentar, virar vapor.

Divino e profano, racional e aventureiro, dual.

Me entrego, alternadamente, a cada um, sem sossego. Me desgasto, sofro. Viajo no lado etéreo, me aprisiono naquele que senta para observar a vida.

Um é a calma, o outro, insanidade. Ganho asas e também pés que não se desprendem do chão.

Quero a calma do entardecer, mas a ciranda mistura as cores...

E essa luta eterna abre feridas, rompe nervos, destroça a paz

E entre calmarias e desassossegos me diluo, me misturo, me espalho, vivendo por viver e sem viver.

Zel suek - 1995

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O DERRADEIRO ADEUS



Desmontar a casa é muito mais do que retirar quadros das paredes e encaixotar objetos, é também despertar os sons dos risos, das lágrimas, das palavras benditas. e das malditas.

É, mais uma vez, fazer ecoar as vozes tão amadas que se impregnaram em cada minúsculo espaço. Sons de um passado que está se desfazendo e ao mesmo tempo se intensificando na memória afetiva do meu ser.

Cada objeto embalado guarda sua história e conserva o calor das mãos que os tocaram. Sejam simples canecas, sejam elementos sagrados... todos são passados a limpo. Junto com o pó, a memória dos dias vividos e divididos com aqueles seres que me acompanharam no caminho.

Remexer nas gavetas me faz sentir nua diante do passado resguardado em velhas e extáticas fotografias, mas que ganham vida quando contempladas pelos olhos saudosos de quem esteve presente em cada cena.

Ver as caixas sendo empilhadas é como lacrar relíquias de tempos que já se foram, dias felizes multiplicados e dores divididas.

Uma estrada inteira percorrida ao longo dos anos que se foram e levaram vidas, sonhos, projetos e ocultos desejos.

As paredes nuas prenunciam a chegada de um novo alvorecer que não posso prever se será de sol ou de tormentas...

Os espaços vão ficando vazios, o coração geme em silêncio e agonia.

Ressuscitam-se cenas banais do cotidiano e uma gigantesca onda de saudade me remete ao começo, onde tudo o que tínhamos era uma reserva inesgotável de Fé, Amor pela Divindade e o sonho utópico de viver a plenitude da vida num lugar Sagrado.

Juntos contemplamos as estrelas, sorvemos o cheiro da terra, vimos pirilampos iluminando noites escuras, ouvimos o coaxar dos sapos, as cigarras e a orquestra dos grilos.

Vimos a Lua no céu, erguer-se majestosa por detrás da colina.

Estas são as figuras remotas que ganham força, viço e vida na hora do derradeiro adeus.

Contemplo, pela última vez, o Bosque Sagrado e deposito as primeiras flores da florada das glicíneas no solo onde adormeceram espadas e anéis.

Lágrimas jorram profusas; uma mistura de alívio, tristeza, saudade e de Fim.

Zel Suek para Jocelito Suek (in memoriam)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

VENENO CONTRA RATOS, RATAZANAS, CAMUNDONGOS E DEMAIS ROEDORES

Novo medicamento lançado em 2014 aponta resultados surpreendentes no combate aos ratos brasileiros.

A fórmula é antiga, datada de centenas de anos, mas a população estava acostumada à ineficácia dos seus resultados e passou a acreditar que ratos e homens teriam que conviver por toda a vida.

Recentemente, cientistas paranaenses ressuscitaram a antiga fórmula acrescentando doses maciças de um novo elemento químico, recém descoberto, denominado Sergio Moro, cujos princípios ativos são: coragem, ética e um elevadíssimo senso de moral. Além disso, por ser incorruptível, conseguiu fazer ligações químicas bastante animadoras com MPF, PF, Procuradores e mais algumas dezenas de outros elementos que potencializam a fórmula.

Com todo esse incremento e a inclusão de novos elementos, diga-se de passagem, o tempo todo disponíveis, porém sem uso, resultou num pesticida fulminante contra ratos grandes, gordos e gulosos, insaciáveis, eu diria, além de se reproduzirem exponencialmente.

A fórmula anterior até promovia resultados em minúsculos e quase inofensivos camundonguinhos e outras pestes de menor importância.

As ratazanas maiores, mais velhas, inclusive as amputadas, começaram a tremer visto estarem acostumadas a usar um antigo antídoto conhecido mundialmente, composto por dosagens altas de caradepauzismo, semvergonhice, pilantragem, impunidade, megalomania, poder, maucaratismo, entre outros.

A população paranaense comemora a nova e incrementada fórmula que vem desentocando ratões e seus bandos, (leia-se mulheres, filhos, comparsas, apadrinhados, quadrilheiros...), pois a mesma beneficia toda a Nação Brasileira, tão corroída pela peste.

Novos estudos apontam para a descoberta de uma nova vacina que foi batizada provisoriamente com o nome de "Cadeia".

Entretanto, nem toda a comunidade vem aceitando bem esse remédio, alegando que seu sabor é amargo demais, que as doses prescritas são exageradas entre outras queixas.

Há uma forte teia obscura, trabalhando na surdina e tentando desqualificar os efeitos do raticida. Mas de forma geral, a população ("pela primeira vez na história deste país"!) vislumbrou a possibilidade da higienização eficiente em nível nacional e o extermínio de tão repugnantes, execráveis, peçonhentos e abjetos animais, inclusive os que ostentam togas, diplomas, jatinhos, comendas e também os que acreditam veementemente que altares serão erigidos em homenagem ao martírio a que estão sendo submetidos.

Aguardemos, portanto, a disseminação do remédio milagroso e que ele esteja presente em cada casa, em cada empresa, em cada órgão público ou privado (porque a infestação é gigantesca e está em todas as camadas). Quem sabe assim, nosso povo tão sofrido volte a deitar a cabeça no travesseiro, dormir e sonhar com uma Nação mais humana e menos "ratizada".

Zel Suek