terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

DUAL





Como uma célula que se divide, me parto em duas e cada uma das partes adquire personalidade e vida própria.

São duas em uma, lutando em lados opostos, uma luta inabalável e silenciosa. Crescem, avolumam-se, desgastam-se.

Não consigo juntar meus pedaços. Uma gosma liguenta impede que os dois lados se colem. Um assiste, resignado, a vida passar pela janela, outro pulsa, quer escapar, ganhar espaço, experimentar, virar vapor.

Divino e profano, racional e aventureiro, dual.

Me entrego, alternadamente, a cada um, sem sossego. Me desgasto, sofro. Viajo no lado etéreo, me aprisiono naquele que senta para observar a vida.

Um é a calma, o outro, insanidade. Ganho asas e também pés que não se desprendem do chão.

Quero a calma do entardecer, mas a ciranda mistura as cores...

E essa luta eterna abre feridas, rompe nervos, destroça a paz

E entre calmarias e desassossegos me diluo, me misturo, me espalho, vivendo por viver e sem viver.

Zel suek - 1995

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